O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou hoje um requerimento de convocação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O pleito, se aprovado no plenário da comissão, forçaria o chefe do Executivo federal a depor na condição de testemunha. A estratégia de Rodrigues, no entanto, gera um impasse jurídico. No Congresso, embora não haja proibição expressa na Constituição, há consenso histórico de que uma CPI não pode convocar o presidente da República —pois isso seria interpretado como interferência de um poder (Legislativo) no outro (Executivo).
Além disso, há precedentes no âmbito do STF (Supremo Tribunal Federal) que garantem a chefes do Executivo o direito de não comparecer a uma Comissão Parlamentar de Inquérito. De acordo com o requerimento do líder da Rede, a convocação de Bolsonaro seria para explicar “graves fatos” que contribuíram para a perda de quase meio milhão de brasileiros que testaram positivo para o coronavírus.
“Para citar alguns exemplos emblemáticos: o combate às medidas preventivas, como o uso de máscaras e o distanciamento social; o estímulo ao uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia comprovada e à tese da imunidade de rebanho; as omissões e falhas do governo federal que contribuíram para o colapso no fornecimento de oxigênio aos hospitais do Amazonas e que levaram ao óbito de centenas de pacientes por asfixia”, detalha o documento.
A tendência é que o pedido seja rejeitado durante os trabalhos de hoje —o plenário se reunirá para avaliar e votar dezenas de requerimentos, entre os quais convocações de governadores e do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Além das dúvidas jurídicas que cercam o requerimento, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), vem indicando aos colegas que não tomará medidas que possam ser vistas como extremas. Exemplo disso foi a negativa ao pedido de prisão feito pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), em desfavor do ex-chefe da comunicação do governo Fábio Wajngarten. Na ocasião, o depoente foi acusado de mentir.
Convocação do Presidente na CPI
Não existe nenhuma proibição expressa para que o Presidente da República não seja convocado para depor na CPI da Covid. O entendimento jurídico majoritário, no entanto, aponta que o ato representa uma interferência indevida entre os Poderes — Executivo e Legislativo. A explicação foi feita pelo advogado João Paulo Martinelli, professor da faculdade IBMEC-SP, em entrevista ao UOL.
O regimento do Senado prevê que a CPI pode convocar “ministros de Estado, tomar o depoimento de qualquer autoridade, inquirir testemunhas, sob compromisso, ouvir indiciados, requisitar de órgão público informações ou documentos de qualquer natureza, bem como requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de inspeções e auditorias que entender necessárias”. O foro que seria mais adequado para colher os depoimentos do presidente seria o STF, a partir de uma acusação do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Bate-boca entre senadores por requerimento sobre Presidente da República
Os senadores Randolfe Rodrigues e Marcos Rogério (DEM-RO) discutiram durante a sessão após o vice-presidente da CPI da Covid pedir a inclusão do requerimento que convoca o presidente Jair Bolsonaro a prestar depoimento diante do colegiado. Marcos Rogério chamou de “piada” o pedido protocolado por Randolfe e alegou que o parlamentar “não se dá o respeito”.
“A defesa ensandecida do presidente Jair Bolsonaro está lhe deixando cego. Só em falar em Jair Bolsonaro que o senador Marcos Rogério começa a ficar tenso, com os nervos a flor da pele”, declarou Randolfe. O presidente Omar Aziz interveio na discussão alegando que não é possível chamar de piada algo protocolado por um dos senadores e pediu respeito aos parlamentares que bateram boca na Comissão. “Não dá para entrar extrapauta, ele fica aí e depois a gente analisa”, disse Aziz sobre a convocação de Bolsonaro.
Marcos Rogério, em sua defesa, alegou que a CPI tem se tornado um Tribunal de Nuremberg — que julgou os casos de membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha Nazista.
Veja no link da UOL